quinta-feira, 31 de março de 2011

11. O Salto Alto ataca novamente

O salto alto confere elegância à mulher e, quando usado sem cautela, irritação ao vizinho de baixo. O 'toc-toc' diário, dependendo da hora, acaba com os nervos de qualquer pessoa, por mais calma que seja. Aliás, assim que nosso condomínio foi instalado, esta foi uma das primeiras reclamações recebidas.

Morei num prédio onde, por algum tempo, o apartamento de cima ficou vazio. Quando ele, enfim, foi ocupado, passei a conviver diariamente com o salto alto da vizinha. Seria até suportável se ela não saísse muito cedo para trabalhar, inclusive aos sábados. O 'toc-toc' era meu despertador (bastante eficiente, por sinal).

Mas duro mesmo era sábado. Às cinco da manhã já começava o barulho, e como ela se movimentava bastante antes de sair, perdurava por pelo menos uma hora. Para segurar a irritação, passei a controlar sua vida através do barulho. Ah! Agora está na cozinha; deve ter ido tomar café. Voltou para o quarto, para terminar de se arrumar. Oba, foi para a sala, já vai sair. Nãããão! Esqueceu alguma coisa e voltou correndo. Santa criatura, que nunca ouviu falar em havaianas ou pantufas!!!

Querendo evitar desgastes, pedi ao porteiro que falasse com a minha adorável vizinha de cima. A conversa amigável não surtiu efeito. Ela simplesmente não achava que incomodava. Até que resolvi apelar para uma solução caseira, mas que se mostrou extremamente eficiente - a vassoura. A cada manhã, assim que começava o 'toc-toc', eu batia com o cabo da vassoura no teto, em igual sintonia. O barulho acabou rapidinho...

"A arte de viver é simplesmente a arte de conviver ... simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!" (Mário Quintana)

10. Os 4 Cs



Ao ler o título deste post você deve estar se perguntando o que são os 4 Cs. Reza a lenda que as maiores fontes de conflito em um condomínio podem ser resumidas em 4 Cs: Carro, Cachorro, Criança e Cano. Esta afirmação foi corroborada por um levantamento do Radar Lello (*), que aponta que "75% das reclamações de moradores de prédios são relativas a um dos 4 Cs, sendo que cachorros representam 30% das queixas". A conclusão do levantamento é que "para os problemas que começam com ‘c’: cachorro, criança, carro e cano, a solução definitiva também tem a letra ‘c’ - convivência".

Adorei a sutileza do texto, porque, para mim, o maior problema de um condomínio é mesmo Educação (ou a falta dela). À exceção dos problemas com canos, o restante depende unica e exclusivamente de educação.

Raciocinem comigo:

a) Crianças, se forem educadas, saberão distinguir entre o certo e o errado;

b) Carros não aprontam espontaneamente (ou já tem carro que anda sozinho?);

c) Cachorros, coitados, levam a fama pelos donos. No gramado que cerca a calçada do meu condomínio colocamos diversas plaquinhas do tipo "Recolha as fezes do seu cão", com desenho e tudo. Mesmo assim nosso gramado vive sujo. Desço com meu cachorrinho duas vezes ao dia e não me custa absolutamente nada levar um saquinho para recolher a sujeira que ele faz. Para facilitar, nosso condomínio até colocou um suporte com saquinhos, ao lado da saída da garagem.

Mas as pessoas dos prédios vizinhos insistem em levar seus cachorrinhos para sujar nosso gramado. Estas pessoas devem ser parcialmente adeptas do ditado "A grama do vizinho é mais bonita" - então vou enfeiá-la. Só pode! A culpa, com certeza, não é dos pobres animais ditos irracionais. Para mim, irracionais são seus donos, que contribuem ativamente para deixar calçadas e gramados imundos.

Já tive muita vontade de mandar fazer uma faixa bem grande para colocar no gramado, com os dizeres "Eu não sei ler, mas meu dono sabe"... Será que adianta? Juro que um dia vou testar.

(*) http://www.sindiconet.com.br/2477/informese/radar-lello/materia-radar/os-4-cs-dos-condominios

terça-feira, 29 de março de 2011

9. Os 10 Mandamentos de como destruir o seu Condomínio

Li o texto abaixo, publicado por Ricardo Conceição(*), e adorei. Por isto resolvi publicá-lo hoje. Lembrando, como ele mesmo diz, que o texto nada mais é do que uma pequena brincadeira. Mas pode servir para uma reflexão!

COMO DESTRUIR SEU CONDOMINIO (e de quebra o seu investimento) 10 Mandamentos

1. Não freqüente as reuniões de condomínio, mas quando for até lá procure algo para criticar.

2. Se comparecer em alguma atividade, encontre só falhas no trabalho de quem está lutando por ele.

3. Se o(a) síndico(a) pedir a sua opinião, não responda. Depois espalhe que as coisas deveriam ter sido feitas de outro modo.

4. Faça apenas o necessário, mas quando um grupo estiver trabalhando com vontade e interesse, diga que o condomínio é feito apenas por um “grupinho”.

5. Não leia os comunicados e informativos distribuídos. Depois diga que o síndico(a) não divulga o que faz, que não publica nada de interesse dos proprietários e moradores, ou ainda que você nunca os recebe.

6. Se for convidado para qualquer cargo, recuse alegando falta de tempo e depois critique: “essa turma quer ficar sempre nos cargos”.

7. Quando receber convites para assembléias ou reuniões nas quais serão discutidos e decididos assuntos importantes, não compareça. Depois critique as decisões tomadas e espalhe as suas divergências.

8. Apareça nas reuniões apenas quando quiser discutir algum interesse particular, ou legislar em causa própria.

9. Não pague a contribuição mensal. Porém não esqueça de cobrar da administração melhorias no condomínio.

10. Após todas estas colaborações espontâneas, quando algum insucesso ocorrer, estufe o peito e afirme com orgulho: “Eu não disse?”

(*) Blog de Ricardo Conceição - http://www.vivendoemcondominio.com.br/

domingo, 27 de março de 2011

8. O Chato

O Chato (ou sua versão feminina, a Chata) está presente em todos os lugares, porque, na verdade, ele não existe. Ele é definido pelos outros. Ninguém se autointitula "Chato". O máximo que pode ocorrer é encontrar alguém que fale, com disfarçado orgulho, "Eu sou chato", apenas para ouvir algo do tipo "Não, de forma alguma, você é apenas criterioso". Mero teatro!

"Chato é aquele ser que nasceu pra aborrecer quem está passando por qualquer situação crítica e necessita de descanso e paz." O Chato está sempre presente: no trabalho, no clube, e também no condomínio, claro, porque, para ele existir, alguém tem que achá-lo chato. Para o síndico, Chato é aquele vizinho que vive perturbando. Para o zelador, Chato é o síndico. Para o porteiro e as crianças do prédio, Chato é o zelador. E por aí vai...

Em geral, o Chato é primo-irmão do Sabe-Tudo (mas deste falaremos em outro post). O Chato entende de tudo e quase sempre está numa posição contrária à do síndico. Se uma coisa foi feita de um jeito, o Chato vem dizer que deveria ser de outro. E sempre depois que tudo foi feito, claro, porque manifestar-se antes é perder a oportunidade de reclamar depois.

O Chato adora escrever no Livro de Ocorrências do condomínio, para registrar ali seus 5 minutos de fama. Mas - sejamos justos - existem os Chatos do bem, aqueles que de fato querem ajudar. Estes são tolerados por todos, e acabam virando folclore.

Adoro a música do Oswaldo Montenegro, intitulada "O Chato". Sua letra é perfeita, por isto a reproduzo aqui:

"Ah, todo chato é bonzinho / nunca nos faz nenhum mal / ah, todo chato é calminho / como se faltasse sal / Ah, todo chato te conta / aonde passou o Natal / E sempre te dá uma dica / de onde ir no carnaval / Ah, todo chato cutuca / pra você prestar atenção / chama cabeça de cuca / e arranha um violão / diz que inventou uma música / e toca as seiscentas que fez / e quando você abre a boca e boceja / ele toca tudinho outra vez / Ah, todo chato é gosmento / mas não há como evitar / eu sou um chato e meu Deus não me agüento / só me tacando no mar."

Xi... Em Brasília não tem mar! rs

7. A Lanchonete do Condomínio


Ano de 1996 - Nosso condomínio recém-inaugurado tinha uma área de lazer bem completa, incluindo uma lanchonete em frente à piscina. A princípio imaginei que ela seria um "elefante branco" e nos traria mais problemas do que prazer. Mas eu estava enganada.

A lanchonete tornou-se um delicioso ponto de encontro dos moradores que começavam a habitar o condomínio. Rogéria, a moradora que resolveu assumir a lanchonete, era uma pessoa fantástica - simpática, batalhadora e competente. A comidinha gostosa atraía um grupo razoavelmente numeroso para o almoço. Nada mais prático do que não ter que cozinhar após sair da praia, almoçar vendo as crianças brincando na piscina e ainda ter a chance de conhecer melhor os vizinhos. Tudo de bom!

À noite a lanchonete era um point para adultos e garotada. Um sanduíche gostoso no calor, ou um caldo quentinho, no inverno, animavam o papo que ia até altas horas. De vez em quando, aparecia uma atração diferente, como o cantor Dalto, que foi visitar um amigo e passou a noite cantando e tocando violão. Até hoje, quando escuto "Muito Estranho - Cuida bem de mim" lembro daquele tempo mágico que vivemos.

Aprendi que problemas não existem; somos nós que os inventamos.

"Quando vemos problemas como oportunidades para crescer, liberamos uma fonte de conhecimento dentro de nós que nos leva em frente." (Marsha Sinetar)

6. O(a) Síndico(a)



Síndico(a) é aquela figura odiada por muitos, adorada por poucos e incomodada por todos!

Jamais pensei em ser síndica, mas numa reunião de condomínio polêmica, que mais parecia um leilão, onde todos levantavam o braço e a voz ao mesmo tempo, o último "lance" foi o meu. Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três... Fui eleita síndica! E por unanimidade.

E lá fui eu buscar informações para desempenhar da melhor maneira possível meu novo papel. Algumas das lições aprendidas estão relacionadas a seguir:

1) "Condomínio é o lugar onde pessoas com cultura (mas muitas vezes sem educação), bons hábitos (e péssimas atitudes), e expectativas diferentes dividem o mesmo espaço. É natural que haja conflito, e a mediação é papel de quem dirige o condomínio." Quem? O síndico, claro.

2) "Cabe ao síndico manter a harmonia entre os condôminos, traçar planos exeqüíveis, restaurando, mantendo e melhorando o patrimônio. Ser todos sem deixar de ser ele mesmo”. Esta, eu adorei. Fácil né?

3)"Conhecer a Convenção, o Regimento Interno e todas as decisões tomadas em Assembléias é primordial para quem exerce a função de síndico." Eu adoro ler, mas...

4)"Administrar com transparência, mantendo os condôminos sempre informados. Fora isso, paciência e tolerância também são bemvindas, sempre!"

Diante dessas recomendações, aceitei o desafio feliz da vida, porque cheguei a uma conclusão importante: se fosse bem sucedida como síndica, teria garantido o meu lugar no céu!

"Em toda luta por um ideal se tropeça por adversários e se cria inimizades. O homem firme não os ouve e nem se detém a contá-los. Segue sua rota, irredutível em sua fé, imperturbável em sua ação, porque quem marcha em direção à luz não pode ver o que ocorre nas sombras."

5. Os nomes dos Condomínios

Ah! Os nomes dos condomínios são um capítulo à parte! Uma profusão de nomes em inglês, francês, espanhol, como se o aprendizado de línguas estrangeiras fizesse parte do currículo básico de todo cidadão brasileiro. É tanto Quartier, Garden, Piazza, Maison, Green... Ou então Villa com "l" dobrado, Park com "k" ou Club sem o "e".

Li, outro dia, que as grandes construtoras já possuem áreas técnicas que realizam estudos específicos para determinar o nome da incorporação. As construtoras querem que "o conceito do imóvel seja refletido no nome" (uau!). "Para passar uma idéia de aconchego e refinamento buscamos um nome francês" (queria ver alguém que nunca estudou francês falar "Clair de Lune" ou "Père Goriot" com facilidade).

Difícil é encontrar um condomínio com nome "genuinamente nacional". Por isto me chamou a atenção um condomínio aqui perto de casa, que se chama Recanto dos Pássaros. Um nome simples, bucólico, interessante. Quem não pensaria em - pelo menos num primeiro momento - morar num local com este nome?

Como toda questão tem seu lado bom e seu lado ruim, fico feliz em saber que ainda não começaram a utilizar o alemão, o russo ou o grego para dar nome aos prédios.

"Os grandes nomes, em vez de elevar, rebaixam aqueles que não os sabem usar." (La Rochefoucauld)

4. Idéias Absurdas 1 - O Teleférico

Este post, que chamei de "Idéias Absurdas", é um assunto que se desdobra em muitos, já que a criatividade das pessoas é praticamente ilimitada, o que rende muitas histórias divertidas, como esta que vou contar agora.

Estamos num condomínio praiano, localizado em frente a uma extensa faixa de areia, na Região dos Lagos do RJ. Reunião de instalação de condomínio, muitas decisões a tomar, assembléia lotada (as primeiras reuniões de um condomínio são sempre lotadas).

Lá pelas tantas, uma senhora levanta a mão e sugere ao Presidente da mesa que seja construída uma passarela, na faixa de areia em frente ao condomínio, para que se possa alcançar o mar. Os presentes se entreolham, num misto de espanto e incredulidade. Como uma pessoa que compra uma casa na beira da praia não quer pisar na areia? É então que um gaiato, lá do fundo da platéia, dá um grito: "- Sr. Presidente, manda construir um teleférico!". Gargalhada geral! O que poderia ser motivo de briga, acabou em piada.

Texto em homenagem ao nosso amigo Maurício (o gaiato), que Deus levou tão cedo lá pra cima!

"É possível mudar nossas vidas e a atitude dos que nos cercam simplesmente mudando a nós mesmos." (Rudolf Dreikurs)

3. Área de lazer - Problema ou Solução?

Nasci e passei minha infância em Bento Ribeiro, subúrbio do Rio de Janeiro, brincando na rua. Brincadeiras simples, que não dependiam de tomada, apenas de criatividade. Naquela época, a única preocupação dos pais com segurança era um joelho ralado ou um braço quebrado.

Hoje em dia, com a crescente violência urbana, é praticamente impensável deixar crianças brincando sozinhas na rua. Por isto o papel da área de lazer nos condomínios fechados é muito importante. Nas áreas de lazer as crianças podem, desde pequenas, relacionar-se com outras crianças e brincar em segurança.

No entanto, é fundamental impor limites e regras, como em qualquer outra situação. Crianças são danadas, são levadas? Claro que sim, faz parte da sua natureza serem curiosas e experimentarem... Experimentarem, principalmente, os limites dos adultos. Ver até onde se sustenta a sua autoridade. Impor limites não é fácil, mas quem disse que viver é fácil?

"Suas crianças têm apenas uma infância. Participe dela. É uma experiência inesquecível..."

2. Como surgiu o Diário de um Síndico?

Sempre pensei em escrever um livro sobre o assunto "Condomínio", mas desisti do livro e resolvi fazer o blog por ser mais dinâmico, na medida em que posso interagir com outras pessoas.

Sempre que se fala em condomínio as pessoas torcem o nariz. Quando se fala em síndico, então... é sinônimo de ladrão. É bem verdade que muitas pessoas desonestas contribuíram para manchar a imagem da "categoria", mas os tempos mudaram e hoje em dia vemos muitos síndicos bem intencionados e com alto nível de profissionalismo.

Meu objetivo, com este blog, é acabar com o mito de que condomínio é sinônimo de problema. A vida em condomínio = comunidade pode ser, sim, muito prazeirosa e interessante. A proposta do blog é reunir histórias engraçadas e fatos curiosos, para que os leitores percebam como é possível fazer amigos e ser feliz, "mesmo" morando em condomínio.

"A paz mais desvantajosa é melhor do que a guerra mais justa." (Erasmo de Rotterdam, filósofo holandês)

1. Quem sou eu?

Uma mulher cinquentona, que passou a infância e a adolescência em subúrbios do Rio de Janeiro, morando em casas, e que até a maioridade nunca tinha ouvido falar na palavra "condomínio".
"Mais que de máquinas, precisamos de humanidade." (Charles Chaplin)